O mercado de logística no Brasil movimenta valores anuais que superam o total dos produtos internos brutos de várias economias latinas e até europeias. De acordo com a Pesquisa Anual de Serviços do IBGE (PAS/IBGE), em 2013, os serviços de transporte, armazenagem e correios responderam por 5,3% do PIB nacional, atrás apenas à da participação da agropecuária (5,7%) e praticamente igual à da construção civil (5,4%).
Não é por outra razão que a operação de serviços de logística é um segmento que tem crescido muito, como substituição vantajosa em relação aos mesmos serviços que, antes, eram executados internamente pelas indústrias e produtores de commodities.
A consultoria americana Booz Allen Hamilton, e o CEL/Coppead, Centro de Estudos em Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conduziram conjuntamente um estudo de mercado sobre os operadores logísticos que, em parte, estamos compartilhando neste post.
O trabalho é de 2001, porém mantém a atualidade em relação à realidade do mercado, e vale a pena ser compartilhado.
Para sua elaboração, foram aplicados questionários em 67 dos maiores prestadores de serviços logístico, com base no volume de vendas anuais, bem como realizadas pesquisas em profundidade com 12 dos principais players. Paralelamente, foram entrevistados grandes usuários de serviços logísticos, na busca de entender suas percepções do mercado.
Mercado de muitos players
De acordo com estudo, o mercado possui seis tipos básicos de operadores logísticos:
1) operadores nacionais de transporte e/ou de armazenagem;
2) operadores regionais de transporte e/ou armazenagem;
3) operadores nacionais incipientes de serviços integrados;
4) operadores regionais incipientes de serviços integrados;
5) operadores de serviços expressos;
6) operadores nacionais de transporte e de armazenagem orientados ao cliente (client-oriented) em evolução.
Cada um desses seis tipos de prestadores de serviços logísticos possui características diferenciadas em relação ao volume de vendas; tipos de serviços prestados; categoria de clientes; bem como em relação à política de preços praticada. De acordo com o estudo, tais diferenciações podem ser resumidas da seguinte forma:
1) Operadores nacionais de transporte e/ou de armazenagem
Em geral, começaram a participar do mercado logístico regional e fornecendo apenas um dos serviços. Depois de agregarem (ou não) o segundo serviço, decidiram partir para a expansão nacional. Representam um dos maiores segmentos do mercado de logística, com vendas anuais que oscilam entre poucos milhares e centenas de milhões de dólares ($US). É um segmento altamente fragmentado, mas evidencia um crescimento lento e gradual.
Seus clientes, geralmente, são indústrias básicas e operadores de serviços logísticos integrados. As políticas de preços praticadas apresentam grandes contrastes. Em termos de gestão, esforçam-se para a conquista de uma excelência operacional.
2) Operadores regionais de transporte e/ou armazenagem
Tais fornecedores de alcance regional normalmente atendem indústrias concentradas geograficamente. Muitas vezes são beneficiados com benefícios fiscais em relação ao ponto de partida e também organizam retornos (backhaus). É o segmento mais forte do mercado, com faturamentos anuais que começam em milhares e vão até milhões de dólares ($US).
Também é altamente fragmentado e com políticas de preços totalmente diversas. Atendem clientes industriais com variável complexidade logística e, em alguns casos, conseguem prestar atendimentos de maior valor agregado.
3) Operadores nacionais incipientes de serviços logísticos integrados
Tipicamente, prestam serviços para a maior parte do território nacional e, muitas vezes, também para os países do Mercosul. De forma lenta, têm-se expandido para além dos serviços de transporte e de armazenagem, com um aumento do atendimento de outros tipos de serviços logísticos de maior valor agregado.
Entretanto, são reativos na maior parte das vezes e não atendem clientes de setores específicos e a base de clientes é altamente concentrada. O faturamento vai de milhares a milhões de dólares ($US) e os contratos de serviços variam entre um e três anos.
4) Operadores regionais incipientes de serviços logísticos integrados
Em geral, cobrem a região Sudeste e mais alguma outra região, incluindo alguns países do Mercosul. São operadores que, na maioria, originaram-se da área de tecnologia de informação (TI) ou da área de despacho aduaneiro e, com esse background, naturalmente agregam serviços logísticos de maior valor agregado, ao lado do transporte e da armazenagem. Apresentam soluções integradas para indústrias que demandam média complexidade logística.
Os clientes não são focados em nenhum setor em particular e as vendas anuais variam entre milhares e milhões de dólares ($US). A política comercial é baseada em tabela de preços, comissões, ou contratos de risco.
Em geral, os contratos apresentam prazos de no mínimo três anos. A base de clientes é menos concentrada do que no caso dos operadores logísticos nacionais incipientes.
5) Operadores de serviços expressos
São empresas originárias de operadoras aéreas ou de serviços de correios que decidiram expandir seus serviços. A cobertura é nacional, relacionada à cobertura original pré-existente. Mantêm forte ênfase em TI e apresentam confiabilidade na prestação de serviços. É um segmento em transformação, motivada principalmente pelas fusões e aquisições frequentes nos setores de que se originam.
O faturamento anual fica entre milhares e milhões de dólares ($US). Os serviços expressos atendem principalmente o transporte, mas podem também agregar retirada, embalagem e rotulagem. Operam a partir de tabelas de preços, embora haja algumas negociações à base de bônus de desempenho.
6) Operadores nacionais logísticos orientados ao cliente (client-oriented) em evolução
Segmento em evolução, além de prestar serviços de transporte e armazenagem, esses fornecedores oferecem serviços de alto valor agregado, e pretendem que os clientes centralizem com eles todos os serviços de logística (one-stop shop).
Normalmente operam sob uma marca internacional. Sua atuação está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, mas também atendem o Mercosul, se houver necessidade por parte dos clientes, uma vez que funcionam conforme a necessidade deles(on demand).
Desenvolvem e implementam solução logística customizada, bem como executam a operação. Interagem e trocam informações com os clientes, inclusive com os das empresas multinacionais. Não trabalham com clientes da indústria básica nem da área de commodities.
Os contratos celebrados com os clientes são de no mínimo três anos e a política comercial emprega uma combinação de preços de tabela, cobrança de determinados custos, bônus de desempenho e participação nos lucros. Com relação ao volume de vendas, é o menor setor da área logística, porém o movimento anual na maior parte das empresas nunca é inferior a US$ 50 milhões.
Como se pôde ver, os prestadores de serviços logísticos constituem um mercado complexo e não homogêneo, cujas vantagens principais são a possível mobilidade entre os nichos e o grande espaço ainda disponível de potencial crescimento.
O que você achou desse estudo? Coincide com a sua visão de mercado? Deixe os seus comentários!