O mundo inteiro está sentindo o impacto e vivenciando os transtornos que o novo Coronavírus vem causando desde o início de 2020. No setor econômico, a pandemia do Covid-19 já fez a economia mundial entrar em recessão, sendo provavelmente pior do que ocorreu em 2009 na crise financeira global.
Os abalos do Coronavírus na logística também já são sentidos no setor. O desafio de lidar com a urgência da alta demanda de suprimentos, como alimentos e medicamentos, e ao mesmo tempo com a falta de matéria-prima e mão de obra é cada vez mais latente.
Mas é importante destacar: nesse cenário de crise, o transporte de cargas está desempenhando um papel fundamental para levar abastecimento aos hospitais, farmácias, supermercados e toda cadeia por trás que também se move para manter esses negócios funcionando.
Apesar desse esforço, as medidas necessárias de isolamento para conter a transmissão do Coronavírus provocaram um gargalo logístico que impacta na circulação de mercadorias essenciais e não essenciais.
Diante disso, o que o gestor da área logística pode esperar da economia nos próximos meses e como é possível agir a favor do seu negócio nesse momento de crise do Coronavírus?
Aprendendo com crises anteriores
Embora não seja possível prever as consequências do Coronavírus na logística e no setor econômico, é possível ter um norte e ideias de como agir a partir de cenários similares que já foram atravessados anteriormente.
São exemplos: a epidemia de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em 2003, na China; o desastre de Fukushima, em 2011, no Japão; e a epidemia de MERS (Síndrome respiratória do Oriente Médio), em 2015, na Coreia do Sul, que abalaram fortemente a economia local.
Segundo levantamento da Bain & Company sobre os cenários anteriores, é possível notar três acontecimentos em comum nas crises como a que atravessamos hoje, com o Coronavírus: períodos de choque, recuperação e estabilização. É o que vemos no gráfico abaixo:
1. Período de Choque
No primeiro momento da crise causada por graves problemas de saúde na população, o mercado sente um forte abalo financeiro e o desempenho da economia cai como um todo. Apesar de alguns setores verem sua demanda aumentar, como os de alimentos e higiene, o quadro geral é de desaceleração forte e repentina.
A queda das vendas na China, na crise de SARS, por exemplo, durou dois meses em 2003. A queda no Japão em 2011, durante o desastre de Fukushima, chegou a -8%. Já na Coreia do Sul, a queda causada pelo MERS, em 2015, durou três meses e levou o crescimento econômico a 0.8% (uma queda de 4,1%).
2. Período de Recuperação
Após o período de choque, quando a crise é controlada e vai amenizando, o mercado volta a funcionar gradativamente, com o retorno da população ao trabalho e diversos setores importantes voltando à ativa. É nesse momento que a economia começa a se recuperar.
A China levou três meses para recuperar suas vendas, atingindo o crescimento de 9.9%. O mesmo período levou o Japão, que recuperou seu crescimento acima do patamar antes da crise em 1.6%. Já no caso da Coreia da Sul, o período de recuperação levou 4 meses, já que coincidiu com o Festival de Meio do Outono, que movimenta o país anualmente. Isso causou um pico de crescimento nas vendas de 8.3%, seguindo de uma queda de 3.5%.
3. Período de Estabilização
Nesse último estágio, o mercado se estabiliza com o fim da crise, e o setor econômico precisa lidar com as consequências do primeiro período. É o momento de tentar recuperar as demandas de vendas perdidas e retomar o posicionamento no mercado. Esse movimento vai variar segundo a realidade de cada local.
Como o mercado se comporta durante e pós-crise
Ainda segundo a análise da Bain & Company, o mercado costuma apresentar três padrões diferenciados de demandas durante e após o período de crise, a depender do seu nicho. É o que vamos explicar a seguir.
1. Cenário de Pico + Estabilização
Nesse cenário, o pico de demandas é causado pelo pânico, que surge em meio à crise e faz aumentar as compras nos supermercados, por exemplo, a fim de estocar alimentos e outros produtos essenciais, em decorrência do receio de faltar durante a crise. Após o pico, há estabilidade na demanda desses produtos, pois eles continuam sendo adquiridos durante a crise.
2. Cenário de Pico + Queda + Estabilização
Nesse cenário, há um grande pico de demanda, e em seguida há uma queda brusca. Isso acontece nos mercados em que os produtos são essenciais para o período de crise e eles são estocados logo ao início dela.
À medida que o tempo vai passando, os produtos acumulados vão sendo consumidos gradativamente. Por isso, depois de um tempo de estabilização, a demanda tende a crescer, uma vez que os consumidores precisam voltar a comprá-los.
3. Cenário de Queda + Pico + Estabilização
Nesse cenário, ocorre o efeito “chicote” da logística. Os consumidores adiam as compras desses produtos durante o momento de crise, causando assim uma queda da demanda no primeiro momento.
Mas, após a crise e quando se sentem seguros, consomem em massa os produtos que estavam com uma demanda reprimida. Isso justifica o aumento da linha no gráfico, até que haja uma estabilização.
Diminuindo o impacto do Coronavírus na logística
Muita coisa pode ser aprendida a partir das crises de saúde na China, no Japão e na Coreia do Sul. Os sistemas de saúde, segurança e comércio, por exemplo, foram forçados a mudar o seu modo de operação.
Pela magnitude das epidemias e dos desastres naturais, milhares de empresas desses países vivenciaram os efeitos negativos. Entretanto, com as crises, muitos negócios aprenderam e passaram por mudanças essenciais para se renovar no mercado e minimizar impactos futuros.
1. Flexibilidade
O primeiro aprendizado é sobre ter mais flexibilidade em seu negócio. Na atual crise que estamos passando causada pelo Coronavírus, na logística diversas empresas que têm apenas um fornecedor como a China, estão sofrendo com a falta de insumos para a produção. Além disso, o país asiático está com os contêineres travados, o que abala as exportações em todo o mundo. Além de paralisar a produção, sua empresa pode ter prejuízos relacionados à perda do produto.
Você tem ideia do quanto a sua empresa depende de algum cliente em especial, de um único sistema de armazenagem, das opções distribuição ou de algum fornecedor específico? O grau de dependência que sua empresa possui de algum stakeholder é um ponto que você deve avaliar nesse momento. Ele influencia no impacto que a sua empresa pode sentir em meio à crise logística causada pelo Coronavírus.
Então, não dependa de poucos clientes ou fornecedores. Busque sempre uma margem para trocar de parceiros ou de mercados. Em crises severas como a atual, eles também sofrem o impacto em sua logística, e contar com mais opções pode ser a salvação do seu negócio.
2. Oscilações na demanda
Seja durante ou após a crise, todos os setores do mercado passam por oscilações na demanda, como vimos mais acima nos últimos cenários. Por esse motivo, o gestor da área logística deve buscar equilíbrio entre os cortes e os investimentos de recursos que se pretendem fazer nesse momento de crise.
Você pode aproveitar os exemplos que apresentamos neste artigo para identificar como o seu mercado costuma se comportar em um cenário de crise de saúde. Esse pode ser um norte sobre o que os próximos meses reservam para sua empresa.
Além disso, analise o comportamento do cliente em relação ao seu produto ou serviço e a cadeia logística do seu negócio. Neste momento, tanto investimentos quanto gastos podem fazer com que você perca dinheiro e oportunidades, se não forem bem examinados antes de bater o martelo.
3. Migração para o digital
Um dos grandes aprendizados que os países asiáticos tiveram em crises anteriores de saúde foi a migração de processos para o ambiente digital.
Empresas de todo o mundo que migraram suas vendas ao longo desses anos para o meio digital são as que menos estão sofrendo o impacto do Coronavírus. Um exemplo disso são as vendas online, que dispararam com o confinamento dos consumidores em seus domicílios.
A venda de produtos e serviços que se adaptaram ao ambiente digital continuam acontecendo, apesar da oscilação na demanda. Diversos processos de gestão e atividades administrativas já vêm sendo digitalizados nos últimos anos e permitindo que essas tarefas sejam realizadas de qualquer lugar com acesso à internet.
Até mesmo atividades como a contratação de transportadoras já ocorrem 100% pela internet.
Desse modo, as empresas que podem não sobreviver a essa crise de Coronavírus que estamos passando são aquelas com modelo de negócios tradicional, que ainda não abraçaram o potencial que as ferramentas digitais oferecem.
Em momentos de crise, faz toda diferença aproveitar os benefícios que o meio digital pode proporcionar ao seu negócio.
>> Se você gostou desse conteúdo, também deve se interessar pelo webinar que realizamos com os principais profissionais da área logística do Brasil sobre o impacto da Covid-19 no setor.